quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Teclas Mudas



A liberdade é um direito que a muito se luta para ter. 

Diz-se que é da democracia a suprema liberdade de ir e vir, fazer e ser o que bem quiser, porém o que se vê é um sistema que escraviza mentes, corpos e almas, por meio do medo e de condicionamento progressivo ao decorrer da vida. O que se vê são estados governados por instituições, empresas e seres sem nome e muito poder. O que se vê é uma liberdade retratada em campanhas publicitárias, com jovens tomando cerveja, Cowboys fumando cigarros, homens bem sucedidos em seus belos carros e mulheres livres de odores menstruais graças ao leve aroma do campo em seu absorvente. 

E lá está ela, a internet, o meio de comunicação que emergiu com a força de um mastodonte, o canal que liga informações, corretas e incorretas, de forma ágil e dinâmica.

Vejo a internet como uma forte ferramenta, um megafone onde a voz daqueles que são calados há tanto tempo finalmente tem vazão, onde o pensar e o expressar das ideias fluem, interagindo e evoluindo com as demais correntes de pensamento, crescendo e tomando forma, copiando e colando, sampleando e tomando perspectivas novas e criativas.

Sou contra o engessamento deste meio. Eu, que não vejo muita credibilidade nos movimentos anarquistas, mas que os admiro por seus ideais, vejo na internet o sistema utópico funcionando, vejo o mais próximo que já chegamos do real sentido da palavra liberdade, vejo o brilho de um amanhã onde talvez o ser humano consiga evoluir de forma coletiva, onde o sintético se torne orgânico.

Digo não a regulamentação da rede. Digo não a UIT, pois eles não nos representam e suas normativas só colaboram para cada vez mais estarmos aprisionados e sob a tutela de poderes invisíveis que usarão de nossa ignorância, nossos dados pessoais, nossas características psicossociais, nossos hábitos e crenças para nos manipular, controlar e nos parar quando for necessário.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Pensamentos aleatórios sobre conflitos internos

Imagem de Agnes Cecile



Mas que merda de aperto é esse, e essa saliva que não desce, esse enjoou leve e esse tempo nublado lá fora?

Se quer mesmo saber, eu não sei. Me pego falando comigo, refutando diversos pontos da relação humana, discutindo sobre liberdade, monogamia, fidelidade, traição e sorvete de creme.

Há razão em escolher o sorvete de creme se você pode escolher o misto, existe amor sob tutela, monogamia é um tipo de madeira, existe liberdade, e principalmente, ser feliz é não ser infeliz?

Ta subjetivo de mais, né? Ok, é provável que eu continue assim até o final do texto, então aconselhou parar de ler por aqui.

Peguei do meu pai, herança congênita, essa infelicidade com o estar, esse desgosto com o próximo e até comigo mesmo, esse descontentamento com o presente. Esse caos interno se intensifica em situações de impasses emocionais. A emoção e a razão ficam discutindo, uma querendo ser mais certa que a outra. A emoção grita feito uma mulher de TPM, cheia de razão só por estar pressentindo isso ou aquilo. Diz que vai dar merda, que é preciso escolher, que o certo nem sempre é o que gostaríamos e que eu sei como fazer passar essa angústia. Já a razão responde com ar de prepotência, e com pedância em seu discurso. Diz que tudo é relativo e que infelizmente todos os lados tem suas razões e argumentações válidas. Uma diz que eu to errado enquanto a outra diz que todos estamos certos, dependendo do prisma.

Estranho é me pegar ouvindo hardcore, parecendo adolescente novamente. Tenho uma desculpa plausível pra isso, é que só consigo escrever ouvindo música gringa, para não ficar prestando atenção na letra, mas de qualquer forma isso é tão juvenil. 

Bem, mas enfrentarei isso como um homem adulto, com maturidade, serenidade, ponderando os pontos levantados, com muito álcool correndo no sangue, caçando vaginas como um ser irracional, andando entre amigos que também se perguntam se não seria melhor estar com uma garota legal, mas fingem que boceta e álcool são o sentido oculto/explicito da vida.

Pra ser sincero, se quer mesmo saber, eu não sei.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Datas sazonais são tão românticas



Me foi pedida uma carta, mas não somente uma carta, e sim uma carta de amor. Ah! A espontaneidade das datas sazonais – Dia dos namorados.

Não que eu não seja romântico, ou pior, um antipassional, mas o Amor assim como a palavra Deus já me foi muito repetida, ficou desgastada, o sentido da palavra ficou mais belo por sua pronuncia do que por seu conceito. Seu signo, e não estou me referindo ao zodíaco, tem mais significante, que significado. Virou fórmula de sucesso: musicas, textos, filmes, imagens – Tudo que fala de amor chama a atenção, vende, cria furor.

Eu particularmente acho chato ouvir histórias de amor, enredos sugados por Hollywood. Me soa falso e previsível tudo isso. Sempre que chega perto destas datas de espontaneidade coletiva me pergunto o por que estou nessa? Por que correr atrás de presentes, pegar filas, pagar mais caro por algo que duas semanas antes estava 50% mais barato.

O romantismo está em não se comentar tudo isso. Passar por isso é necessário, faz parte dos nossos ritos cabalísticos (advindo da palavra cabaço pra caraí), dos costumes sociais.

“Uma flor para marcar a data já seria o suficiente”- disse ela. Mas se essa flor vir acompanhada de um sapato ou uma bolsa, alguém vai se dar bem essa noite.

A verdade é que eu não me importo muito com tudo isso. Sei o que representa e não vejo algo tão errado assim, mas para permanecer como data romântica ninguém pode começar a esmiuçar seu sentido real.

Pensou, fez comparações, associações com o mundo capitalista e o marketing que a cerca, pronto, esquece a beleza e vai pro shopping.

Quando eu penso em amor penso em companheirismo, em confiança mutua, em família, em uma força que motiva o mundo. Gostaria que esse texto não fosse lido como critica ao amor e sim como reflexão sobre o mesmo. Eu não tenho nada contra o amor, eu inclusive amo ele.

terça-feira, 22 de maio de 2012

“Queimem o Bobo” – disse o Chato




Me intriga que pessoas tenham medo do nu, de vê-lo por aí, em estátuas, sites como o FaceBook, e até no nu alheio, de carne e presença.

Causa vergonha, mesmo quando se está só a observar, sem ninguém em volta para te recriminar. Mas a recriminação já está em você e você é o primeiro a se combater e apontar os culpados por tal material impróprio e perverso.

Primeiro que acho banal o Face, via alcaguetes, penalizar alguns usuários por expor fotos de nu, mesmo porque muitas fotos artísticas são penalizadas seguindo esse mesmo preceito inquisitório. Partindo também do pressuposto de que se pede que seja maior de idade para acessá-lo e que se não quiser ver você pode bloquear as pessoas que compartilham essas "pecaminosidades", não há muito fundamento nessas ações fundamentalistas.

Não que eu esteja muito preocupado com o rumo que isso pode atingir nas redes sociais mas sim com o ímpeto de hiper moralismo quase que fascista que tenho notado ebulir em conversas corriqueiras.

Temo pelo destino do riso, que antes de se rir tem que se discutir qual o peso social que essa piada pode ter. Temo pelo elogio entre amigos à mulher que acaba de passar, não em voz alta, mas entre o círculo que ali beberica e balbucia asneiras. Temo só pela estranha neblina que complica tudo e transforma em um discurso prolixo o que não precisava.

Chatos, uma nova safra deles, sedentos por achar preconceitos, por lutas morais e crucificar falsos profetas.

Não queria ter que me explicar, mas como os chatos podem se coçar e eu não vou querer responder, gostaria de deixar claro que sou a favor da luta contra os preconceitos, pela causas das minorias e que o bandido tenha uma morte lenta e dolorosa por meio de torturas medievais, também quero abraçar um morador de rua, plantar uma árvore e ajudar um pássaro que esteja com a asinha quebrada, mas só acho que um assunto deva ser recriminado se o mesmo recrimina, prejudica e agride... Taí outro ponto, o que te agride pode não me agredir, e até mesmo aquele que você colocou no papel de oprimido pode te achar um chato por não rir da piada.

Como disse outro dia e redigo outra vez, há muitas lutas lá fora, mas não é por todas que eu vou lutar.


quinta-feira, 29 de março de 2012

Se beber não dirija. Se vira.



Já não é a primeira vez que vejo pessoas nas redes sociais exaltando o aumento das penalizações para determinados delitos, exigindo que as autoridades tomem uma postura mais rígida com os infratores. Me lembra até os discursos moralistas do Datena. Indignados, repetem palavras de ordem que escutaram em jornais sensacionalistas, fazem petições virtuais, fáceis e assertivas: “Faça sua parte, basta um click pra mudar o mundo”.
Está em alta, e já faz um tempo, desde antes do começo da lei seca, imagino, o tema: “se beber não dirija”. Tá, faz sentido. Não vou nessa crônica, e olha que sempre faço isso, colocar um monte de dados sobre como os números de mortes no trânsito são alarmantes. Convenhamos que todos sabemos, e por isso todo esse reboliço. Mas o que me intriga é o por que as pessoas bebem e dirigem? Não, desculpe, isso não me intriga, se bebemos ficamos mais corajosos e inconsequentes, tem até coerência, mas pra que sair de casa de carro se sabe que vai beber?
Aí que entra o outro lado. Sou muito a favor de penalizar quem dirige alcoolizado, sou mesmo, mas acho bem engraçado o Estado responsabilizar e penalizar o contribuinte antes de dar possíveis soluções para que as pessoas possam beber e voltar para casa. Primeiro que até agora o álcool não é proibido... Até agora. Acima de 18 anos é permitido consumir álcool, mas como para beber precisa-se pagar, grande parte tem que trabalhar, isso em sua maioria se dá em horário comercial, das 09h às 18h... sobra então a noite para beber... mas , mas...bem, tem ônibus a noite toda? Não, né...táxi é preço de banana em SP?...não, né...Ah tá, o Estado se abdica de suas responsabilidades e muda o foco para o inconsequente que atropela gente por aí por estar bêbado.
Não quero dizer, novamente repito, que sou contra penalização de pessoas que dirigem alcoolizadas, porém acredito que primeiro o estado dá alternativas viáveis e depois tem o direito de cobrar. Isso é só política de alienação da massa que sai assinando tudo sem ao menos pensar e pesquisar um pouco mais sobre o assunto.
Não tem como ficar assimilando tudo que se lê/assiste/ouve por aí, é tudo muito tendencioso, e pouco embasado. “Não engula, cuspa”... já dizia minha sábia tia que trabalhava à noite.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Não pode batucar aqui

- Texto publicado no Jornal Juntos - http://juntos.org.br/2012/02/nao-pode-batucar-aqui/


Quarta-feira, 01 de fevereiro de 2012. 2012, data que precede o fim de um ciclo, espero eu que o fim do ciclo de hipocrisia das corporações que representam esse sistema decadente.

Estava eu a passar pela catraca na estação de metrô São Judas, olhei os números que acusavam o roubo, R$2,90. Mas não foi essa minha surpresa. Minha atenção voltou-se para um rapaz que estava a discutir com um dos metroviários em vozes acaloradas.

“Porque preciso parar de cantar?”, perguntava ele. O rapaz, cujo nome descobri depois ser Lucas, ou se preferir Gracco Oliveira, autointitulado poeta, não conseguia entender o porquê da represália ao simplesmente expressar estar feliz, ao batucar em uma das muretas do metrô e cantar enquanto aguardava seu amigo. E pelo que me pareceu, o funcionário do metrô autointitulando-se A Razão, também não entendia, pois não verbalizava, simplesmente coagiu o rapaz, imobilizando seus braços enquanto mais um fiel defensor da lei e dos bons costumes, que chamaremos de A Ordem, também metroviário, segurava a garganta de Lucas.

O primo de Lucas tentou intervir, assim como o restante da população que se mostrava indignada com o que estava acontecendo. Porém, vendo que o rapaz imobilizado por dois homens ainda estava a reclamar seus direitos, e protestar contra a agressão, A Razão não viu outra alternativa se não derrubar o rapaz ao chão e lhe aplicar uma gravata. E eu que nem sabia que a festa era Black Tie.

Todos em volta perplexos, sem saber se intervir seria se envolver demais, celulares filmando, gritos de desaprovação, mas ali estava a lei, o homem que tinha poder sobre outro homem e que fazia questão de demonstrar isso com orgulho de sua farda.

A briga foi apartada quando os demais seguranças do metrô chegaram, a multidão reclamava, alguns se envolveram na discussão com os metroviários, a PM chegou empunhando cassetetes, e no fundo ouvia-se a voz de Lucas, roca de gritar seus direitos sem os vê-los.

Todos pra DP, duas testemunhas e os três envolvidos. Chegando lá, lhe ofereceram chá... chá de cadeira, no mínimo umas 4 horas esperando para serem atendidos. Tudo pronto e nada resolvido.

Os metroviários o acusaram de desacato entre outros, Lucas e seu primo os acusaram de violação do direito de ir e vir, repressão e abuso de poder.

Todos liberados às 0 horas, um novo dia, o fim de um ciclo, espero eu que o fim do ciclo de hipocrisia das corporações que representam esse sistema decadente.