quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Os Sonhadores

Como se não houvesse amanhã, e tão perto dele, pois afinal já é o final da noite. O relógio marca 23h50.

o amor libertário, a música alta, a prepotência de um homem branco de classe média. Um homem... nunca pensei que me definiria como homem algum dia. Sempre me vi como um garoto. Homem; quem diria?

Eu ainda sou imortal como um adolescente? Não, o corpo mostra que não e a mente não se mostra mais tão turva. Vejo a amplitude do que me cerca com mais facilidade e sinto que quanto mais o tempo passa maior é o horizonte, que já não está há minha frente, mas sim me contorna, por detrás dos prédios.

Assisto filmes e vejo nos atores os personagens de pessoas que passaram por minha vida. Vejo minhas ex namoradas, ex amantes, me vejo. Vejo pequenos trechos da minha vida. "A vida com você é como estar em um sitcom" - disse o Caos, olhando no fundo dos meus olhos enquanto repousava seus cabelos lisos em meu peito.

O calor toma o quarto. Penso que sou o que o tempo me fez ser. Sou todos que passaram por mim. Sou todas que passaram por mim. Lembro do taxista que me disse que o tempo não existia. Lembro dos seios bárbaros de uma garota que provavelmente me mataria algum dia. Lembro da moça de tornozeleira de madeira que me ensinou que eu era um cara egoísta demais, mas que tinha potencial pra ser melhor que isso. Lembro de todos que já me deram amor; e Deus do céu, como é bom ser amado. Por que raios ninguém sabe receber amor? Por que raios não nos deixamos ser amados e amamos com igual força reciproca? A balança sempre tem de pender pra um lado? As fórmulas da vida que aprendemos nos filmes, novelas e nas conversas de família de final de ano, nas conversas escrachadas do bar... tudo isso que aprendemos, é a única forma de se fazer? Lógico que não porra. Lógico que não porra!!! mil vezes porra! é porra jorrando pra todo lado!

Meu sexo, minhas dúvidas, meus desejos, minha raiva, minha falta de sentido em escrever pra ninguém ler. E mesmo que ler, vai pensar o quê? Vai questionar minha sexualidade? minha coerência? Minha gramática adquirida em um colégio público defasado e obsoleto?Quem liga para o que os outros pensam?? Todos ligam meu caro. Bem vindo a sociedade.

O cara me estuda publicidade enquanto se considerava um quase punk. O cara cresceu no seio do cristianismo conservador e hoje vive como um pagão hedonista. O cara aprendeu a transar assistindo porno machista, mas é pró feminismo. Cara, o cara não vê muito sentido em tudo isso, mas sabe que existe um calculo divino que conecta tudo.

Ensinaram a ele a ser homem e ele tomava cuidado pra não balançar demais os braços porque isso era afeminado. Ensinaram a ele que precisava trabalhar pra ganhar dinheiro, e ele entendeu que pra fazer arte teria que ter uma vida dupla, onde hora ganharia dinheiro se prostituindo como proletário submisso; hora seria um astro do rock, dançando entre seios, embriagado, entorpecido. Bem, ele pegou gosto pela submissão e pelo dinheiro, e chegou a cansar um pouco da arte, chegou a pensar que talvez eles, os que disseram pra ele como as coisas funcionavam, talvez estivessem um pouco certos.

Hoje já é amanhã. A madrugada o chama para as ruas, mas amanhã tem trabalho e o sono é obrigatório. O olho quer chorar por descobrir, enquanto digita com seus dedos treinados, que a juventude tende a morrer e que punks velhos são decadentes.

Hoje ele tem barba, transa como sempre quis transar, viaja, escreve (pouco), faz arte. Hoje ele é o que ele sempre soube que seria. Mas não o que sonhou em ser.

Ainda......?

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